As duas calças jeans

por Alvaro Gomes

 

           Duas calças jeans foram produzidas e confeccionadas na mesma fábrica, no mesmo dia, pela mesma costureira, e ambas eram exatamente idênticas. Mas como qualquer outra calça, elas precisavam de algo que para quem as comprassem seria muito mais importante do que elas por si só, uma “marca”.

 

           A primeira calça recebeu uma etiqueta que trazia consigo o nome de uma famosa grife, o que faria com que seu valor ficasse muito acima do que ela realmente valia,  logo ela já poderia ser vista em uma linda vitrine em um conceituado shopping ao lado de outras roupas tão caras quanto ela.

 

          A segunda calça já não teve a mesma sorte que a primeira, pois recebeu uma etiqueta com um nome totalmente desconhecido que jamais viria a atrair a atenção das pessoas, tendo como destino uma loja qualquer, em uma esquina qualquer, pendurada junto a outras dezenas de calças tão sem valor quanto ela.

 

          A primeira calça foi comprada por uma cliente cujo poder aquisitivo correspondia ao valor que havia sido estipulado a ela, e se por alguma razão, um objeto inanimado como uma simples calça jeans pudesse ter o dom de sentir, de se emocionar, essa com certeza ficaria muito feliz, porque junto com a sua dona ela pode ir a vários lugares, conhecer muitas cidades, andar pelos melhores restaurantes, freqüentar belos teatros, ir a grandes casas de espetáculos, sempre esbolsando o orgulho de ter uma grande “marca” estampada em si.

 

          A segunda calça foi adquirida por uma cliente pobre, que havia economizado dinheiro durante três meses para poder comprá-la. Ela não pode ir a vários lugares, conhecer muitas cidades, andar pelos melhores restaurantes, tão pouco freqüentar teatros e casas de espetáculos, na verdade eram raras as vezes em que ela era retirada do guarda-roupa em que ficava. Se essa calça também pudesse ter o dom de sentir, de ter sentimentos, com certeza ela seria muito infeliz por passar tanto tempo trancada, sendo ela utilizada apenas em momentos considerados importantes por sua dona.

 

          Se a primeira calça jeans tivesse o dom de enxergar, um dia ela viria que ao passar algum tempo uma outra calça mais nova roubaria o seu lugar no closet, e que logo já não estaria mais sendo usada com tanta freqüência e quase nunca atravessava a porta em direção a rua. E se ela pudesse sentir, sofreria ao ver sua dona a qual ela tanto acompanhou e alimentou o ego graças a sua “marca” já não a escolhia mais.

 

          O espaço no closet foi diminuindo, outras calças começaram a ocupá-lo, e a primeira calça foi jogada no lixo porque sua dona já havia enjoado dela.

 

          O tempo passou, e a dona da segunda calça conseguiu adquirir outras calças, mas daquela calça jeans, aquela que ela demorou tanto para poder conquistar, dela ela nunca se desfez, porque sabia do valor que ela tinha, não por carregar consigo uma “marca” e sim pelo que ela representava.

 

                                                    “Ao escolher as suas amizades,

                                     escolha pessoas que irão te valorizar por quem você é,

                                                        pelo que você representa,

                                                      e não pelo que você possui.

                                  Aquele que deseja sua amizade visando o que você tem

                                           apenas com o intuito de alimentar o próprio ego,

                                                                já te jogou no lixo,

                                                            e você nem percebeu."