As duas estrelas
por Alvaro Gomes
Havia uma estrela no céu. Seu brilho podia ser visto por todas as outras estrelas que a rodeavam, exceto por ela mesma. Porém, algo há muito tempo vinha chamando a sua atenção, era uma outra estrela que brilhava mais do que qualquer outra, e isso de alguma forma começou a perturbar suas emoções, alterando a sua rotina.
Ela não conseguia entender o porquê daquela estrela brilhar tanto, e o que ela havia feito para merecer todo esse destaque perante as outras.
O que ela representava? Por que não haviam outras iguais a ela? Por que aquela estrela se destacava tanto?
Ela começou a invejar a outra estrela. Queria ter um brilho igual ao dela. Não admitia que algo se diferenciasse tanto e chamasse tanto a atenção.
Estava focada em apenas uma coisa. Havia esquecido de seu papel no céu e o porquê de sua existência. Seu foco e seu interesse estavam voltados somente a observar a outra estrela, que apenas brilhava. Somente brilhava.
Mas houve um dia em que algo aconteceu e fez com que sua rotina mudasse completamente. Ao olhar para a outra estrela viu aquele brilho intenso se apagar por completo. Ela não entendeu porque aquilo havia acontecido, e depois de se passar muito tempo, percebeu que o sentimento de satisfação que sentiu ao ver o brilho daquela estrela se extinguir, não lhe trazia relevância alguma. Que aquele brilho na verdade já começava até a lhe fazer falta.
Ela sabia que a outra estrela ainda permanecia lá, apagada. Imaginou o quanto estava sendo triste para ela permanecer ali sem brilho, e com tantas outras estrelas a rodeando.
Sua curiosidade passou a ser o porquê do brilho da outra estrela ter se apagado. Queria entender a razão de uma estrela que antes brilhava tanto, a ponto de ofuscar todas as demais, agora se tornasse a estrela mais apagada do céu. E sua curiosidade se estendeu por milhares de anos.
Um dia um cometa passou próximo a ela. Foi então que ela pediu para que o cometa assim que passasse perto daquela estrela, perguntasse por que o seu brilho havia se apagado, e o cometa lhe prometeu que um dia passaria novamente por ela e lhe traria essa informação.
Milhares de anos se passaram novamente, e foi quando ao passar pela estrela, o cometa em fim lhe trousse a resposta que ela tanto almejava.
Ele disse:
- Quando perguntei àquela estrela o porquê de seu brilho ter se apagado, ela disse que não entendia a razão disso ter acontecido. Mas achava que se não tivesse perdido tanto tempo almejando ter um brilho tão intenso igual ao seu, teria se cuidado mais e evitaria que seu brilho se apagasse.
A estrela ficou surpresa. Não conseguiu a princípio processar a informação que havia recebido. Saber que a estrela que ela tanto admirava, e que chegou até mesmo a sentir inveja, na verdade também a admirava.
Ainda muito confusa, a estrela perguntou ao cometa:
- Por que aquela estrela disse que almejava ter um brilho igual ao meu? O que há de diferente no meu brilho?
O cometa lhe respondeu:
- Hora! Você não sabe? Você é a maior estrela do céu, e o seu brilho é o mais bonito entre todas as outras estrelas.
“Jamais se limite em buscar nos outros as qualidades que você já possui. Não desperdice energia em querer ser melhor do que eles, se as virtudes que você já carrega dentro de si já te fazem um ser humano único. Olhe para si mesmo, e aprenda a brilhar sem desejar que outros brilhos se apaguem para que o seu possa ser visto. As vezes o seu brilho está sendo visto por todos, exceto por aquele que mais deveria enxergá-lo, Você.”