A escolha

por Alvaro Gomes

 

    Ao chegar em uma classe no primeiro dia de aula de uma escola pública do estado de São Paulo, um professor que ao perceber que sua presença não havia sido notada devido a algazarra que era feita pelos alunos, sentou-se em sua cadeira e por cerca de vinte e cinco minutos ficou em silêncio e apenas observava o comportamento deles que se diversificava entre a distração, o desrespeito e a falta de interesse.

    

    Alguns alunos conversavam uns com os outros, já outros ficavam isolados em seus mundos particulares onde só existiam eles e seus celulares, e não estavam nem um pouco preocupados se a aula começaria ou não. Não fazia diferença para eles.

   

    Os alunos que notaram a presença do professor ficaram um tanto sem graça com o ambiente, e assim como ele ficaram eretos e com os olhos voltados para frente esperando até que o homem enfim se pronunciasse.

    

    Depois de passado algum tempo o professor levantou-se de sua cadeira e caminhou em direção ao quadro. Ele pegou um giz e com letras enormes escreveu a seguinte expressão;

                                                       

                                                “OLHEM PARA MIM”

   

    Todos os alunos acharam aquela atitude bem estranha, e alguns até ensaiaram um tímido sorriso. Foi quando o professor finalmente disse:

     

     - Boa noite a todos, meu nome é ............, e serei seu professor de sociologia durante esse ano letivo. Mas antes de começar nossa primeira aula eu gostaria de dividir uma curiosidade com vocês. Na verdade, se trata de uma reportagem muito interessante que eu li e diz o seguinte:

      

      “Igor é negro, mora em um bairro popular da  zona sul de São Paulo e estudou toda a vida em escola pública. Comemora, agora, o primeiro lugar em direito na Fundação Getulio Vargas (FGV). Mariana, criada em uma pequena cidade do sul de Minas, não entrou para a universidade de primeira. Não podia pagar pelo ensino superior privado, então tentou o vestibular de novo e, neste ano, conquistou incríveis nove aprovações para medicina em instituições públicas de ponta. Ornaldo é indígena e acaba de chegar a São Paulo. Ele, que veio do Acre, é o mais novo aluno de medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mais do que superar dezenas de candidatos e conquistar uma vaga em instituições e cursos concorridíssimos, esses jovens têm outra característica que os une: para chegar lá, tiveram de vencer adversidades muito maiores do que os exames”.

      

      Vocês não acham isso fantástico? Saber que jovens igual a vocês mostraram para o mundo que também são capazes de vencer, de realizar sonhos, de gritar para o mundo “EU EXISTO!”.  Agora olhem para vocês mesmos e se perguntem; O que de fato eu estou fazendo aqui? O que será que meus familiares em casa estão esperando de mim? Que exemplo de vida eu deixarei para meus futuros filhos algum dia?

      

      Eu não estou aqui para aconselhar vocês, e nem para dar-lhes uma chance. Pelo contrário, eu estou aqui para eliminar vocês. Vou provar que todos nessa classe fazem parte da real estatística de que em cada cem alunos de escola pública, apenas dez se tornarão pessoas bem sucedidas e que irão vencer na vida.

      

      Esta classe pelo que eu pude checar na lista possui sessenta alunos, e seguindo essas estatísticas apenas dez por cento merecem o tempo que dedicarei a partir de hoje. Isso significa que amanhã eu chegarei nessa sala e encontrarei apenas seis alunos, e será somente para esses seis interessados alunos que eu lecionarei. Os outros cinquenta e quatro podem se considerarem dispensados de minha aula..

      

      Agora,

      

      Cabe a  vocês fazerem um exame de consciência e dizer a si mesmos em que grupo vocês estão. Se é entre os seis ou entre os cinquenta e quatro.

      

      Ao retornar a classe no dia seguinte, o professor teve o que para ele não foi nenhuma surpresa. Todos os sessenta alunos estavam presentes na sala e esperavam anciosos o início da aula. Foi quando o professor disse:

 “Quando uma gota de óleo cai em um copo cheio com água, mesmo sendo única, a gota se destaca. Hoje vocês escolheram ser essa gota de óleo. A água, ficou na aula passada”.