Mover-se X Ser produtivo
por Alvaro Gomes
Quantas vezes no ambiente profissional nos deparamos com situações onde pessoas tentam mostrar que são mais produtivas apenas por se movimentarem mais do que as outras.
É ilusão achar que procurar o que fazer, ter a iniciativa de fazer algo que as outras pessoas não fizeram por acharem desnecessário, mostrará de fato que elas são pessoas produtivas.
E o que é de fato ser produtivo?
Há uma definição sobre produtividade que diz que ela é basicamente definida como a relação entre a produção e os fatores de produção utilizados. A produção é definida como os bens produzidos(quantidade de produtos produzidos). Já os fatores de produção são definidos como sendo pessoas, máquinas, materiais e outros. Quanto maior for a relação entre a quantidade produzida e os fatores utilizados maior é a produtividade.
ALMEIDA ÁLVARO, Economia Aplicada para Gestores, Cadernos IESF (ISBN 972-9051-69-0).
Para uma empresa, produtividade é gerar resultados. Os resultados são convertidos em lucro. Isso significa que para uma empresa ser produtivo é gerar “lucro”.
Ter iniciativa, ser proativo, são qualidades essenciais para que você se torne um bom profissional. Mas se não direcionar essas qualidades utilizando-as para alcançar resultados ou lucro, você estará apenas se movimentando e se desgastando.
É como uma situação onde uma equipe de colaboradores que atuam em uma linha de produção estão em um momento de falta de programação, ou seja, sem nenhum produto para entrar em linha. E enquanto alguns ficam sentados esperando a liberação de um novo lote a ser produzido, sempre há aqueles que procuram o que fazer.
A primeira reação é pegar um pano e começar a limpar algo que já está limpo. Varrer um piso que já foi varrido, enfim. Se procurar realmente saber por qual motivo eles fazem isso, saberemos que há dois.
O primeiro é por acharem que movimentando-se enquanto outros estão parados, é uma forma de mostrar ao seu gestor o quanto são mais proativos e mais produtivos que os demais.
O segundo é por acharem que se o seu gestor os virem parados logo irá repreendê-los.
De fato é o que realmente acontece nas indústrias, porque muitas vezes os próprios gestores não sabem a diferença entre mover-se e ser produtivo. Não importa se o seu colaborador está gerando lucro ou não. Ele só não pode ficar parado.
Vamos a um exemplo:
Certa vez em uma empresa do setor tecnológico, um gerente de produção caminhava pela fábrica e presenciou dois funcionários conversando e tomando café em um dos corredores que dava acesso tanto a área produtiva quanto a área administrativa onde sua sala estava localizada. E indignado com o fato, repreendeu os dois funcionários e os fez retornarem aos seus postos de trabalho. Também chamou o supervisor da área e relatou o ocorrido exigindo que daquele momento em diante ele tivesse mais controle sobre os seus subordinados.
Ele não sabia que era de costume dos colaboradores do setor de produção pararem por alguns minutos para tomarem o tal merecido cafézinho da tarde, e tão pouco sabia que esses dois funcionários eram dois dos melhores operadores do setor, e mais produtivos.
O supervisor por se sentir coagido em atender as ordens de seu superior, começou a atentar-se e sempre que percebia que algum colaborador terminava suas tarefas, logo o deslocava para outras linhas mais atrasadas. E com o passar do tempo os funcionários perceberam que não era mais vantagem serem tão produtivos assim. E o resultado? Começaram a acomodar-se. Aumentaram o tempo de seus processos impactando diretamente na produtividade.
Para o gerente tudo parecia caminhar normal. Já não mais surpreendia nenhum colaborador conversando pelos corredores da fábrica. Porém, não entendia o por que da produtividade do setor ter caído tanto, já que seus colaboradores estavam o tempo todo "movimentando-se”.
Com o passar do tempo ele foi percebendo que fazer com que seus subordinados sempre tivessem com o que se ocupar, não estava de fato trazendo nada de produtivo ou mesmo gerando algum lucro a mais nos resultados. Pelo contrário, o desgaste fazia com que eles voltassem para suas casas esgotados e cada vez mais desmotivados em trabalharem na empresa.
Foi quando ele resolveu fazer uma experiência. Implantou uma cultura onde todos os colaboradores teriam que dedicar um espaço do tempo do expediente para conversarem entre eles. Que eles tivessem idéias de melhorias que otimizassem ainda mais os processos, e que também usufruíssem de tempo para fazer observações para assim obter essas idéias. E é claro, dando aos colaboradores um espaço para o tal merecido cafézinho.
O resultado foi o melhor possível. Isso não só fez com que os colaboradores se desgastassem menos. Fez também com que eles recuperassem o ânimo e a motivação. Começaram a ter idéias que geraram a empresa economia e lucros altíssimos mesmo trabalhando menos.
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O gerente entendeu que movimentar-se nem sempre pode ser sinônimo de ser produtivo. Que dois funcionários conversando em frente a uma máquina de café podem por muitas vezes serem mais produtivos do que dois funcionários com um pano e uma vassoura nas mãos. Dependendo é claro do conteúdo da conversa.
Um bom gestor é aquele que enxerga essa diferença. Ele nunca se desgasta em fazer com que outros se desgastem em fazer algo que não seja de fato produtivo.
O vento se move com um objetivo.
As nuvens se movem para um objetivo.
As águas se movem porque vão de encontro a um objetivo.
Precisamos ter essa percepção de que quando nos movimentamos o fazemos com o intuito de gerar resultados, ou apenas para mostrar aos outros que não estamos parados.