Meritocracia X "Meritoclassia"

Meritocracia é um sistema de gestão que considera o mérito como a razão principal para se atingir posições de topo. Segundo a meritocracia, as posições hierárquicas devem ser conquistadas com base no merecimento, considerando valores como educação, moral e aptidão específica para determinada atividade. Constitui-se numa forma ou método de seleção e, num sentido mais amplo, pode ser considerada uma ideologia governativa.

Fonte: Dicionário Priberam da língua Portuguesa.

por Alvaro Gomes

José da Silva tinha um sonho. Seu sonho era o de cursar uma faculdade, trabalhar em uma conceituada empresa e nela fazer carreira.

Marcos Dabckov também tinha um sonho. Seu sonho era o de se tornar músico.

José havia conseguido realizar parte do seu sonho. Conseguiu ser contratado por uma grande empresa do segmento farmacêutico, porém, por não ter tido a oportunidade de cursar uma faculdade antes, começou suas atividades na empresa como operador de produção atuando no setor de fabricação de fármacos.

Marcos sempre estudou em boas escolas. Seu único objetivo era o de ingressar em um conceituado conservatório de música que já era do seu conhecimento, embora seu pai, um executivo de sucesso das indústrias de bens de consumo, nunca concordou com a escolha do filho, e dizia que só o apoiaria financeiramente se ele optasse em cursar uma faculdade e arranjar um emprego.

Essa é de fato uma entre as várias diferenças no que se refere ao pobre e ao rico. Um precisa ter um emprego para "conseguir" cursar uma faculdade. O outro precisa ter uma “boa” faculdade para conseguir um “bom” emprego.

Os pais de José, por não serem providos de recursos, não podiam ajudar o filho com seus estudos, por isso, ele precisava acordar cedo todos os dias e encarar um dia cansativo de trabalho para conseguir pagar o curso de farmácia que ele sempre quis fazer.

Já os pais de Marcos, por serem providos de recursos e por terem condições de bancar os estudos do filho, o obrigaram a procurar uma universidade e escolher qualquer curso que ele quisesse "menos de música" que eles simplesmente assinariam o cheque no final do mês. Isso para que ele não precisasse mexer no dinheiro de sua mesada.

Sendo um executivo do ramo industrial, o pai de Marcos o aconselhou a cursar farmácia, já que conhecia vários profissionais do ramo e que seria fácil recomendar o filho a alguns desses seus amigos. E não tendo seu filho interesse algum de pensar em mais nada que não fosse no seu violão, decidiu aceitar a escolha de seu pai.

José era um rapaz de visão, escolheu o curso de farmácia porque viu que era o curso que predominava na indústria farmacêutica. Todos que faziam parte do chamado “chão de fábrica” e que queriam iniciar uma faculdade, logo pensavam nesse curso, pois, sabiam que os profissionais que estavam acima deles como seus supervisores ou analistas de outros departamentos, tinham em comum essa formação.

Marcos até então, não escondia de seus colegas na faculdade que só estava cursando farmácia porque seus pais queriam, mas, que não pretendia jamais exercer a profissão, pois, ainda não havia desistido do sonho de ser músico.

José era dedicado em seus estudos, sempre tirava boas notas e não deixava que nada roubasse sua motivação. Nem mesmo a falta de dinheiro que não lhe permitia fazer mais nada na vida a não ser focar em seus objetivos.

Já Marcos não usufruía da mesma motivação. Preferia passar mais tempo nos pátios da universidade geralmente em rodas de amigos que compartilhavam da mesma "imposição familiar" do que assistindo as aulas, e claro, sempre com seu violão nas mãos.

Quando chegou a época de procurar estágio, José conseguiu ser dispensado porque já estava atuando em uma indústria. Ele não via a necessidade de buscar oportunidades fora, pois, tinha consigo a certeza de que estava no lugar certo e que tudo seguiria em uma ordem natural. Embora ainda atuando no setor de produção, seus anos de dedicação logo o ajudariam a alcançar novos patamares.

O pai de Marcos conseguiu um estágio para o filho na mesma empresa onde José trabalhava, em um setor conhecido como (garantia da qualidade) pelo conhecimento que tinha com o gerente da área. 

Os caminhos de José e de Marcos se cruzaram quando tiveram que concorrer a uma vaga interna de Analista da garantia da qualidade Jr. Vaga essa que foi conquistada por Marcos devido ao conhecimento que já tinha do setor, e claro, pelo vínculo que já havia construído com seus gestores.

José concluiu sua tão sonhada faculdade de farmácia, cursou várias especializações na área, porém, por não ter conseguido outras oportunidades dentro da indústria, hoje atua como farmacêutico em uma rede de drogarias ganhando o mesmo salário de quando atuava como operador de produção. 

Já Marcos fez carreira na empresa. Hoje atua como Analista da garantia da qualidade Sênior. E por estar ganhando quase o triplo do salário de José, aquele sonho de ser músico já não lhe ecoa com a mesma intensidade. Acabou sendo deixado em um canto onde só acumula poeira, e claro, juntamente com o seu violão.

Dizer que o que aconteceu na vida profissional de José e de marcos foi injusto é ERRADO. Pois, não tem nada a ver com o mérito individual de cada um.

Ter sido favorecido não faz de Marcos um mal profissional, pelo contrário, ele tem seus méritos da mesma forma que José também tem os seus. Nesse caso em específico, foram as condições “profissionais”, o meio onde estavam inseridos, as pessoas as quais eles se reportavam, que determinaram suas posições.

"Sucesso e insucesso, depende muito do ponto de vista de quem avalia."