O menino e o mendigo

por Alvaro Gomes

 

    Júnior era um menino que assim como todos os outros, tinha o hábito de colecionar objetos.

 

     Ultimamente estava empenhado em completar um álbum de figurinhas de jogadores de futebol.

 

     Ele já havia preenchido seu álbum com todos os jogadores, mas ainda faltava uma. Faltava a figurinha do principal jogador, o melhor, e mais famoso de todos.

 

     Todos os dias ao sair para a escola, ele pedia para sua mãe uma moeda de um real que era a quantia exata para comprar um saquinho com cinco figurinhas, mas é claro que todas vinham repetidas, e ele já estava ficando chateado.

 

     Certo dia, quando chegou até sua mãe para pedir a moeda, levou a maior bronca dela. Ela lhe disse que já estava cansada de gastar dinheiro com bobagens e que aquela seria a última moeda que ela lhe daria, também fez com que ele prometesse que não mais pediria outra para gastar com figurinhas.

 

     Mas Júnior não desanimou. Tão pouco ficou chateado com o que sua mãe lhe disse. Pegou a moeda, e saiu para a escola. Ele passou a acreditar que por ser a última chance de conseguir aquela figurinha tão desejada, dessa vez ele a encontraria.

 

     Enquanto ele caminhava, algo desviou a sua atenção. Era um mendigo que estava sentado na calçada e  que pedia esmola para todas as pessoas que ali passavam. Ele não sabia, mas esse mendigo já havia percebido que todos os dias ele se dirigia até a banca de revistas e saía sempre com um pacotinho de figurinhas nas mãos. O mendigo até pensou em lhe pedir uma esmola, mas não o fez por se tratar de uma criança.

 

     Ao perceber que todas as pessoas que passavam por aquele homem sempre o ignoravam  mesmo ele dizendo que estava com fome, o menino olhou para sua moeda de um real, e pensou no quanto ela seria mais importante para o mendigo do que para ele que só queria uma simples figurinha.

 

     Então, ele foi até o mendigo e a entregou a ele.

 

     O velho homem ficou sensibilizado com o gesto, mas ele também percebeu que depois de ter lhe dado a moeda, o menino não entrou na banca de revistas. Foi quando algo em seu coração fez com que ele se levantasse do chão e fosse até a banca e comprasse um pacotinho de figurinhas para dar ao menino assim que o visse novamente.

 

     Ao retornar para casa, Júnior contou a sua mãe o que tinha feito, e que já havia se conformado de que não conseguiria encontrar aquela figurinha.

 

     Sem dizer nada, ela o abraçou, e em pensamento orgulhou-se da atitude tão generosa de seu filho, e pediu desculpas por ter brigado com ele anteriormente.

 

     No dia seguinte, o mendigo resolveu fazer uma surpresa para o menino. Ele foi até próximo a casa onde ele morava e ficou esperando até que ele saísse para entregar-lhe as figurinhas. Mas, por esperar muito tempo, acabou dormindo, e quando acordou, no susto, viu o garoto atravessando a rua, e ao chamá-lo, fez com que ele se distraísse e olhasse para trás, e eis que um carro em alta velocidade surge em direção a criança, que assustada, ficou completamente sem reação. Foi quando por impulso e sem pensar em nada, o mendigo correu em direção ao menino e o empurrou para fora da pista.

 

     O barulho do freio e os gritos das pessoas fizeram com que a mãe do garoto olhasse pela janela, e ao ver o seu filho caído na calçada, largou tudo o que estava fazendo e correu desesperada ao seu encontro.

 

     Ao chegar ao local, tomou seu filho nos braços e se sentiu aliviada ao ver que ele só havia sofrido algumas escoriações. Mas, ao olhar para o meio da rua, viu várias pessoas ao redor de um homem que estava caído diante de um carro parado.

 

     Quando chegou o resgate, o menino e o mendigo foram conduzidos até o hospital, e ao receber alta, ele e sua mãe foram até a sala onde aquele herói  que havia salvado a sua vida estava, e ao entrá-la, viu um homem de semblante ameno que ao ver que o menino estava bem, emocionou-se, ao mesmo tempo em que estendeu sua mão em direção a ele. 

 

     Ao abrir a sua mão, eis que um pacotinho de figurinhas amassado voltou a adquirir forma, e com uma voz baixinha quase como um sussurro, disse ao garoto:

 

                                                  “ISSO É PRA VOCÊ”.

 

     Tanto a criança quanto sua mãe, não conseguiram conter suas lágrimas,  ainda mais quando ao abrir o pacotinho de figurinhas, algo como um milagre fez com que o menino olhasse para sua mãe e dissesse:

 

                                 “OLHA MÃE! A FIGURINHA QUE FALTAVA!”.

 

 

                 Existem pessoas que dão aos outros somente o que lhes sobram na vida.

          Porém, existem aquelas que são capazes de dar a vida que lhes sobram aos outros.