Os dois pilares
por Alvaro Gomes
Dois amigos caminhavam pelo deserto, José e Jamiel. Ambos estavam famintos e com muita sede devido a árdua caminhada embaixo de um sol escaldante.
Cansado de caminhar, Jamiel sentou-se ao chão e disse a José que não mais continuaria, pois dizia que não conseguia se quer sentir as próprias pernas e que era melhor desistir e se entregar do que persistir em uma jornada que seria em vão.
José, homem de fé, encorajava constantemente o amigo, e dizia-lhe com total confiança que Deus jamais os abandonaria e que ele havia reservado um lugar mais à frente para que eles pudessem se alimentar e tal como saciar a sede. E eles continuaram.
Após caminharem por mais dois quilômetros, eis que surge diante deles duas estruturas em forma de pilares e ambas eram sustentadas por duas colunas que subiam uma paralela à outra.
No topo do pilar esquerdo havia uma mesa farta, com muita comida, bebida, pães, frutas e tudo mais que um homem precisaria para se manter por vários dias. Já no topo do pilar direito não era possível visualizar o que nele havia.
Eles pararam diante dos dois pilares e começaram a pensar em uma forma de chegar até o topo, porque ali onde estavam, no meio do deserto, não havia nada que pudesse ser usado como auxílio para que eles realizassem tal feito.
Foi quando como uma suave brisa que pairava sobre o deserto, eis que uma voz que soava como harpa em notas perfeitas, aproximou-se do ouvido de José dizendo-lhe:
- José, se tu quiseres, eu levo-te ao topo do pilar esquerdo para que desfrute de tudo o que nele se encontra.
José ignorou a voz em seu ouvido e voltou seus pensamentos a Deus e ao pilar direito, pois algo dizia em seu coração que ele seria a escolha correta a ser feita.
Ao sentir a recusa de José, a mesma voz aproximou-se de Jamiel e o tentou dizendo:
- Jamiel, se tu quiseres, eu levo-te ao topo do pilar esquerdo para que desfrute de tudo o que nele se encontra.
Jamiel, cego por suas vontades, respondeu:
- Sim, Eu quero.
Vendo que Jamiel era um homem vulnerável a suas ofertas, a voz lhe disse:
- Eu o levarei ao topo, mas tu prometerás que não mais terá José como teu amigo, e jamais irá em momento algum dividir com ele o que será lhe dado, e nem mesmo as tuas sobras você oferecerá a ele. Tu aceitas?
Jamiel respondeu:
- Sim, Eu aceito.
E assim foi feito.
Jamiel desapareceu aos olhos de José que ficou desesperado ao perceber a ausência do amigo, e sozinho, cansado e com muita fome, continuou perseverante e clemente a Deus para que ele não só lhe mostrasse o que havia no topo do pilar direito, mas que também protegesse Jamiel onde quer que ele estivesse. Ele já não podia enxergar o topo dos pilares devido a uma nuvem que havia se formado sobre eles.
José orou a Deus, confiou nele sem deixar que sua fé em momento algum enfraquecesse, e ao final do dia, percebeu que algo de diferente havia acontecido no pilar direito, um degrau havia sido colocado entre suas duas colunas.
Assim se seguiu por mais seis dias, a cada dia um degrau surgia, e José estava cada vez mais próximo de seu objetivo.
Ao completar o sétimo dia, José enfim chegou ao topo do pilar direito e deparou-se apenas com um pão e uma taça de vinho.
Ele agradeceu aos céus pelo pão e pelo vinho, no mesmo instante em que a nuvem começou a decepar-se, possibilitando que ele pudesse ver o topo do outro pilar, e para sua felicidade enxergou a figura de Jamiel que estava mais que satisfeito com tudo o que o pilar esquerdo havia lhe proporcionando.
Mesmo estando surpreso ao ver que José havia conseguido atingir o topo do pilar direito, Jamiel disse-lhe:
- Como você é tolo José! Ficaste todo esse tempo esperando para subir até aí, e tudo que encontraste foi um mísero pão e uma mísera taça de vinho. Olhe para mim, veja quanta coisa eu tenho, e há sete dias atrás eu tinha ainda mais.
José não ligou para o que Jamiel havia lhe dito e comeu do pão e bebeu do vinho, e como um milagre assim que sua taça esvaziou-se, outras duas foram colocadas em seu lugar, e quando ele comeu do pão, também outros dois surgiram diante dele. E assim seguiu-se por vários dias.
Jamiel acreditava que quando sua comida se esgotasse, o mesmo que estava acontecendo com José também aconteceria com ele, mas ele estava enganado. Toda sua comida havia se acabado e nada foi reposto, e quando a fome e a sede voltaram a lhe fazer companhia, ele voltou seus olhos a
José e suplicou para que ele lhe desse nem que fosse a metade de um pão e meia taça de seu vinho. Porém, antes que José desse um passo para atender ao apelo de Jamiel algo de estranho voltou a acontecer.
Deus, conhecendo o coração de José, e sabendo o que ele faria, fez com que toda a comida desaparecesse, e resolveu aplicar a sua justiça.
Ele fez com que mais adiante aos dois pilares surgisse uma imensa floresta repleta de árvores e frutos, com um rio enorme de águas cristalinas que por ela corria de uma extremidade à outra, e a entregou aos dois homens sem pedir nada em troca.
José não encontrou dificuldades para chegar até a floresta, porém, Jamiel não conseguiu ir até a mesma, pois no pilar esquerdo não havia degraus para que ele pudesse descer.