Perdido na floresta
por Alvaro Gomes
Um dia uma pequena lebre que estava sozinha em sua casa, resolveu sair pela floresta a procura de conhecer coisas novas. Porém, sua atitude se tratava de um ato de desobediência porque seus pais diziam que era muito cedo e que ainda lhe faltava maturidade para realizar tal feito.
Para ela tudo era novidade, as árvores, as flores, as aves, os outros animais, enfim. Mas por ser a primeira vez em que ela por fim estava longe de casa e da proteção de seus pais, não conhecia nenhum outro animal, e tão pouco conseguiria destingir quais deles eram inofensivos e quais representavam alguma ameaça a sua vida, aliás, ela nem imaginava que corria qualquer tipo de risco porque ela se quer conhecia a maldade, a chamada “lei da selva”.
Enquanto se distraia com as coisas que via pelo caminho, não se deu conta de que estava cada vez mais afastada de casa. E quando percebeu que já não sabia como voltar, se desesperou e começou a andar em círculos.
Cansada de caminhar em vão, a lebre sentou-se para descansar e foi exatamente durante esse seu descanso que ela viu se aproximar uma figura que lentamente vinha em sua direção, que ao chegar próxima a ela perguntou-lhe:
- Olá pequena lebre! O que faz aqui parada? Por acaso está perdida?
E a lebre respondeu:
- Sim, estou! Não consigo mais encontrar o caminho de casa e quando meus pais derem minha falta ficarão muito preocupados.
Foi quando a estranha personagem disse-lhe:
- Eu conheço os seus pais e sei o caminho para sua casa. O caminho é este! Mas olha pequena lebre, é preciso que você tome muito cuidado, porque esse é o mesmo caminho que leva a casa da serpente e alguém tão inocente como você pode se tornar uma presa fácil. Tome muito cuidado! Se eu pudesse te esconderia dentro do meu casco, mas ele só tem espaço para mim, e infelizmente não posso ajudá-la.
Agradecida pelos conselhos que fora lhe dada, a lebre perguntou a sua nova amiga qual era o seu nome, e a amiga respondeu:
- Eu sou a tartaruga!
A lebre continuou a seguir em seu caminho e logo adiante deparou-se com outra figura também desconhecida, que ao vê-la disse-lhe:
- Olá pequena! O que faz por aqui sozinha? Onde estão seus pais? Você não está perdida, está?
A lebre respondeu-lhe:
- Agora não mais! Uma amiga chamada tartaruga me mostrou o caminho de casa, e estou seguindo por ele. Preciso me apressar porque meus pais já devem terem chegado e quando derem minha falta vão ficar muito preocupados.
A também estranha personagem disse a lebre:
É bom que se apresse mesmo! Porque não sei se percebeu, já está anoitecendo! E sempre que anoitece uma serpente que mora por esse mesmo caminho sai de sua casa para se alimentar. E você pequena lebre, seria um verdadeiro banquete para ela.Tome muito cuidado! Se eu pudesse te esconderia aqui comigo dentro desse casulo que acabei de construir, mas nele só há espaço para mim e eu não posso te ajudar.
Agradecida novamente pela informação que lhe foi passada, a lebre perguntou a estranha:
- Quem é você?
Ela respondeu:
- Eu sou a lagarta!
Apressada, a lebre partiu em disparada para chegar logo em sua casa quando mais a frente se deparou com uma terceira figura que ao abordá-la disse-lhe:
- Onde está indo com tanta pressa lindinha? Parece que está assustada com alguma coisa. Você está fugindo de alguém?
Quase sem conseguir emitir som algum devido ao cansaço, a pequena lebre respondeu-lhe:
- Preciso chegar logo em casa! Conheci duas amigas lá atrás que me alertaram a respeito de uma tal serpente que nesses horários costuma sair para se alimentar e ela mora por esse caminho. Elas até queriam me ajudar oferecendo abrigo, mas em suas casas só havia espaço para elas mesmas e eu não podia ficar nem mesmo para que o dia amanhecesse e já não corresse o risco de encontrar com ela.
A terceira figura sensibilizada com o desespero da lebre disse a ela:
- Pobrezinha! Que sorte você teve de me encontrar. Eu sim posso ajudá-la! Venha comigo até a minha casa, ela é muito grande, é quentinha e muito aconchegante. Você pode ficar lá até que o dia amanheça e assim não precisará se preocupar mais com a serpente. Que tal?
A lebre seguiu com sua nova amiga até sua casa e quando a adentrou disse:
- Que casa grande! Ela é muito espaçosa! Vou adorar passar a noite aqui. Obrigada pela gentileza! Não tenho como recompensá-la pelo tamanho favor que está me prestando, ficarei eternamente grata! Qual é mesmo o seu nome?
A terceira e estranha figura olhando diretamente nos olhinhos vermelhos da pequena lebre respondeu-lhe:
- Ô lindinha! Eu sou a serpente!!
“Quando se está perdido na floresta e não se sabe quem é quem,
você só irá saber quem é a serpente no momento em que for abocanhado por ela”.
Confiança não se adquire através de palavras doces, porque as palavras te enganam e o ludibriam como o veneno de uma cobra. A confiança se conquista através das atitudes, atos e gestos, pois, nem sempre os que possuem muito são os que lhe oferecerão o melhor. No entanto, há outros que mesmo não tendo muito, são capazes de oferecer-lhe o melhor que possuem.